A internet vai mudar o mundo


     *Por Ricardo Prates Morais

     “Pensei que eu ia morrer e não ia ver isso. Essa frase foi dita pela minha esposa para resumir o sentimento que ela sabia que toma conta de mim neste momento. Ficou perfeita. Eu havia sim me tornado um descrente.
     Mas nem sempre foi assim. Desde a adolescência já me identificava contra o regime de força que experimentava seus dias derradeiros no Brasil. Quando tinha 16 anos, lembro de tentar organizar um protesto contra o afastamento forçado e injusto da diretora da escola na qual cursava o 2o grau (atualmente Ensino Médio) porque ela não se adequava ao comportamento que era imposto pelo grupo que dava as cartas (marcadas é claro) no país. Ainda nessa época escrevi um conto que se chamava “DE REVOLUCIONÁRIOS A GRAFITEIROS” e que refletia bem o sentimento de um adolescente influenciado por aquela geração que contestou a ditadura militar dos anos de chumbo.
     Depois do movimento pelas “DIRETAS JÁ” que teve a participação maciça de todo país pela abertura política e eleições diretas, em 1984, o último movimento legitimamente democrático no país, nos tornamos um povo sem brio. Mesmo os “caras-pintadas” que colaboraram para derrubar o primeiro presidente eleito após 20 anos de ditadura, não teve o mesmo apelo pois não foi originado a partir das massas. Lembro que a mídia exerceu uma influência enorme naqueles jovens que pareciam não saber contra o que estavam protestando.
     A geração contestadora e politizada dos anos 60/70 foi controlada pela força dos quartéis e a nova geração Coca-Cola que “estreava” nos anos 80 foi moldada impotente e acomodada exatamente pelo processo de democratização que experimentamos. Depois, foi fácil para os “novos” grupos no poder forjar os jovens através da deterioração da cultura, educação e costumes, patrocinada, inclusive, pela mídia e meios de comunicação.
     Foi assim que os jovens dos anos 80 e 90 se entregaram ao sistema. Mas pior foi o que aconteceu com muitos daqueles jovens revolucionários das décadas anteriores que esqueceram totalmente os conceitos e mudaram de lado, passando a exercer um novo tipo de ditadura imposta pelo poder de barganha e compra de tudo e de todos que tentarem impedir a evolução do seu projeto de conquista do poder. Renato Russo no inicio dos 80 profetizou: “depois de 20 anos na escola não é difícil aprender todas as manhas desse jogo sujo”. Eles aprenderam tão bem a ponto de fazer melhor.
     Quando parecia que tudo estava perdido, o gigante deitado em berço esplêndido acordou sacudido por seus jovens filhos que não fogem à luta mesmo sem temer sua própria morte. Sim, esta juventude contemporânea e conectada acordou e sacudiu o país e o mundo. Esses jovens agora não mais filhos da revolução nem burgueses sem religião como muitos pensam, mas sim crias de um novo mundo globalizado em decorrência dessa magnífica ferramenta que é a internet. Eles estão sendo responsáveis pelo mais forte movimento de protesto das últimas décadas e que vale muito mais do que 20 centavos.
     Eu me sinto ressuscitado. Enxergo nestes jovens um pouco daquele adolescente da década de 80 que pouco fez, apesar de tantos ideais. E fico mais contente ainda que a ferramenta que escolhi como trabalho, a internet, está sendo determinante na divulgação do movimento, mobilização e adesão de participantes. Assim como o Twitter que foi importante para a primeira eleição de Barack Obama.
     Sem desmerecer o poder do homem, esse movimento só se tornou possível graças ao Facebook e demais veículos online que em poucos dias mobilizaram multidões a protestar.
     É o poder do povo aliado à capacidade que tem a internet de comunicar e agregar, colaborando para a mudança do mundo.
     Voltando ao Renato Russo, a geração Coca-Cola diz agora que “não é assim que tem que ser. Vamos fazer nosso dever de casa e aí então vocês vão ver suas crianças derrubando reis”.

Ricardo Prates Morais é diretor da agência emarket.

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