“Nativos Digitais”, será o mal do século XXI?
Por Ana Paula Barros de
Paiva
Fevereiro de 2013 - Impressiona a quantidade de pesquisas e
estudos tendo como objeto os “Nativos Digitais”. Concentram-se tanto no uso das
tecnologias e avanços como no envolvimento das crianças, enfatizando que desde
a barriga das mães já estão conectadas a esse mundo novo, mesmo não sabendo o
que é. Enquanto isso, escolas se vangloriam quando implementam o uso de
tablets, ou de um notebook por aluno, ou de qualquer outro equipamento que seja
disponibilizado no ambiente escolar.
Em muitos casos, infelizmente, quando se
pensa nos projetos a serem desenvolvidos, todos os equipamentos já estão
comprados. Somente depois que tudo foi implementado é que se passa a pensar no
pedagógico. Então, corre-se para fazer algum projeto para utilizar esses
recursos antes que surjam as cobranças pelo seu uso.
Uma empresa de Segurança Digital da
Finlândia realizou uma pesquisa que posiciona o Brasil em terceiro lugar no
mundo nessa ‘modernização’. Mostra que 31% das crianças brasileiras com até 12
anos utilizam diariamente dispositivos móveis com acesso à internet de alta
tecnologia, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (37%) e da Índia (53%).
Com esses dados, é possível perceber o
quanto as crianças estão carentes no mundo, já que, com esses contatos no dia a
dia, buscam se sentir importantes a todo o momento. Mas, cá entre nós, será que
não está faltando aquela atenção da família? Já se ouviu muito dizer que antes
não era assim, criança tinha que aprender, obedecer e não podia falar. Elas
eram tidas como um “captor de conhecimento”, pois só eram receptoras. Até
tinham um incentivo dos pais, mas, por algumas vezes, era de uma maneira
“grosseira”.
Tudo bem, era assim, mas o fato de ter
dado certo no passado não significa que também dará certo para esta geração. É
mais viável pegar o passado e colocá-lo como catapulta, não o comparando nem
mesmo a um simples degrau, dado que a Educação de hoje pede muita
interatividade. Esse fato representará um salto e um marco não somente pelo uso
das tecnologias e redes sociais que não param de avançar, mas com tudo o que o
universo pode oferecer.
Quando uma grande diversidade de
equipamentos é colocada à disposição dos alunos, fica confusa a interpretação
dos objetivos a respeito do que se deseja que eles realizem com tudo aquilo. Se
a equipe não estiver preparada para apresentar esses recursos com competência,
de nada valeu o investimento. Isso é até bastante lógico, pois não adianta
investir milhões em aparelhos de alta tecnologia e pedir que o aluno redigite o
texto de um livro.
Esta geração que chega às escolas
necessita de oportunidades de refletir sobre os dados importantes da sociedade,
superando desafios, criando e sendo instruída em suas responsabilidades. Além
disso, é necessidade dessa geração construir pensamentos críticos, considerando
sempre o fato de que seus atos irão trazer reações tanto boas como ruins,
dependendo tão somente de como e do que for feito.
Que esta geração nasce conectada, isso já
sabemos, mas que tal desenvolver projetos e atividades interessantes para elas?
Se há várias ferramentas disponíveis, por que continuar com as mesmas
atividades de séculos? Claro, tudo tem seu valor, e aqui cabe ao professor a
sensibilidade e a busca de desenvolver a própria criatividade, despertando em
seus alunos o prazer de aprenderem.
Dificuldades para lecionar? Sim, ainda
existem muitas, mas o professor que mais se apropriar de informações e procurar
se desenvolver, mais será capaz de lutar por seus direitos e, ainda, formará
cidadãos autônomos, críticos e responsáveis.
Ao falar de tecnologias na Educação, uma
informação pode deixar todos preocupados. Segundo Susan Greenfield,
especialista em fisiologia cerebral, estamos cada dia mais dependentes de redes
sociais e videogames e, por isso, a previsão do futuro é sombria para os
chamados “nativos digitais”. É preocupante visualizar esse futuro sombrio, mas,
se não houver orientações e cuidados ao usar inúmeras redes sociais ao mesmo
tempo, é o que ele, infelizmente, se tornará.
A tecnologia tem avançado muito, mas será
que as orientações aos nossos filhos e alunos têm a acompanhado? Em vez de
fazerem uma ligação ou uma visita para aquele amigo ou parente que não veem há
anos, muitas pessoas optam por enviar mensagens por SMS, fotos por e-mail ou
pelas Redes Sociais.
Ninguém pode desenhar o futuro, ninguém
sabe realmente como ele será, mas uma coisa é certa: as crianças de hoje serão
os jovens de amanhã e, se não tiverem a vivência de se relacionarem além das
tecnologias, será possível ver, então, mais uma doença mundial em grande
escala, a depressão. Esse mal atinge qualquer um, não escolhe etnia nem classe
social, mas aqueles que se sentem sozinhos, mesmo num mundo repleto de tanta
gente, são vítimas em potencial.
E nós? O que estamos fazendo é o
suficiente para amenizar tais males? Temos, de fato, nos preparado para
orientar nossas crianças, adolescentes e jovens?
Ana Paula Barros de Paiva é
Orientadora Educacional na área de Informática Educacional na empresa Planeta
Educação
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