Um fotógrafo contra uma tradição brutal na África
Por Gilson Lorenti em 16 de
julho de 2014
Essa é uma história bacana que merece ser
conhecida, e também nos mostra que fotografia pode ser utilizada para trabalho
social. No Vale do Omo, na Etiópia, existe uma tradição entre as tribos chamada
de Mingi. Pode parecer um nome estranho que você nunca tenha ouvido falar, mas
na verdade se trata de algo sinistro.
Certas crianças, que nascem fora do
casamento ou com alguma anormalidade física, são classificadas como malditas e
acusadas de poderem trazer para a tribo desgraças como a fome, seca ou
tempestades. Sem hesitar essas crianças são levadas para longe e mortas,
geralmente com algum requinte de crueldade. Esses são os Mingi, crianças que
podem trazer o mal para a tribo e devem ser eliminadas.
Lale Labuko, membro da tribo Kara, diz que
descobriu o ritual aos 15 anos quando sua mãe lhe contou ter tido um Mingi.
Desde então ele tinha como objetivo acabar com o ritual, mas a coisa só começou
a tomar forma quando ele encontrou, em 2004 o executivo de software aposentado
e fotógrafo John Rowe, que estava visitando a região para fotografar os membros
da tribo com suas ricas pinturas corporais. Labuko foi seu guia durante a
viagem e, em um certo momento, decidiu contar sobre o costume das tribos da
região. Sensibilizado com a situação, Rowe e Labuko iniciaram a Omo Child em
2009 e nesses poucos anos salvaram, alimentaram, vestiram e educaram 40
crianças que estavam condenadas a morrer por apresentar alguma das condições
que as classificariam como malditas.
Embora achemos que o mundo do misticismo
seja uma coisa do passado, somente em 2012 os esforços de Labuko conseguiram
convencer os anciães da Tribo Kara a proibirem oficialmente a execução das
crianças “malditas” e, no último verão, um Rei da tribo Hamer se comprometeu a fazer
a mesma coisa. Como a campanha cresceu e ganhou visibilidade, outros parceiros
se juntaram na empreitada. Agora eles possuem apoio da National Geographic e o
renomado fotógrafo Steve McCurry fez uma viagem para tirar fotos das tribo Omo
e ajudar na divulgação da causa.
Arrisco-me a afirmar que, se procurarmos
nos longínquos recantos do mundo, ainda vamos encontrar tradições baseadas em
crendices populares bizarras. Como disse Carl Sagan, esse é o mundo assombrado
por demônios. A fotografia e o engajamento social podem ajudar a jogar um pouco
de luz nessa escuridão toda.
Fonte: Petapixel.
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