Como o criador da Mulher Maravilha inventou o detector de mentiras



    Por Rachel Swaby

     Nós aprendemos a mentir por volta dos dois ou três anos. Quando adultos, mentimos bastante — pelo menos uma vez por dia, talvez 2,92 mentiras em 10 minutos, de acordo com um estudo recente publicado no Journal of Basic and Applied Psychology. Não é de se estranhar que estamos em busca do detector de mentiras perfeito há tanto tempo.
     Na realidade, nós estamos atrás de formas de expor mentiras e os mentirosos que as contam faz um bom tempo. Isso nunca foi fácil.
     Há dois mil anos, na Índia, pediram a alguém suspeito de mentir que mastigasse um grão de arroz. Se, depois de um pouco de mastigação, o sujeito pudesse cuspir o arroz de volta, ele teria passado pelo crivo, teria dito a verdade. Se não pudesse reproduzir o grão, assumia-se que a boca do acusado tivesse secado pelo medo de ser descoberto e transformara o arroz em pó.
     Foi um longo caminho desse método rudimentar até os dias de hoje. A primeira máquina de detecção de mentiras foi um “test de pressão sanguinea sistólica” criado pelo psicólogo de Harvard William Mounton Marston, em 1913. Se esse nome lhe parece familiar, é porque a criação mais conhecida de Marston é, na verdade, a Mulher Maravilha. Mas o detector de mentiras do mundo real de Marston não era um laço que o fazia dizer a verdade. Ele funciona assim: enquanto faziam uma série de perguntas — Qual a sua cor favorita? O que você comeu hoje cedo? Você matou seu colega? —, Marston tomava a pressão sanguina do sujeito. Uma leitura elevada associada a uma resposta apontava a culpa do sujeito. Com apenas um tubo de borracha e aquela coisa que médicos colocam no seu braço e infla, Marston dizia ser capaz de apontar quem dizia a verdade com quase 100% das ocasiões. Ceeeerto. E você também tem um avião invisível…
     Em 1921, o PhD em ciência forense e oficial de polícia John Larson descobriu uma forma de progredir ao fazer perguntas e registrar a pressão sanguinea tornando o processo contínuo. Em vez de medições fragmentadas da pressão sanguina na medida em que a pessoa respondia “sim” ou “não”, uma leitura poderia ser tomada o tempo todo, o que é mais próximo do que nos vem à cabeça quando pensamos em polígrafos hoje: pequenas leituras sísmicas ditadas pela nossa própria culpa e desilusão.

     A imprensa embarcou na onda. Na verdade, foram os jornais que cunharam o termo “detectores de mentiras,” o que deu aos dispositivos médicos algum reconhecimento engraçadinho.
     Apesar da publicidade, os inventores ainda buscavam algum tipo de legitimação legal. Após testarem uma versão atualizada do dispositivo em um suspeito de espionagem na I Guerra Mundial, em 1923 Marston tentou buscar um lugar para o seu detector nos tribunais. Mas a decisão da corte (Frye vs. Estados Unidos) veio contra ele. Embora confiante em sua máquina, a corte decidiu que havia muita margem para erro. Na realidade, a Suprema Corte concordou com sua decisão inicial mesmo 75 anos mais tarde, dizendo, “até hoje, a comunidade científica permanece extremamente polarizada acerca da confiabilidade das técnicas de poligrafia.” Elas são inadmissíveis até hoje.
     Então a justiça não os aprovou. E agora? As pessoas ainda queriam um detector de mentiras. Mesmo que eles não fossem bons para condenar alguém, as máquinas começaram a aparecer em bancos, fábricas e departamentos do governo. Hoje elas são boas o bastante para indiciá-lo num interrogatório policial — mas não o suficiente para levá-lo à prisão.
     Os detectores de mentiras, porém, se tornaram significativamente melhores. Hoje um polígrafo inclui sensores que monitoram a respiração, a pulsação e a transpiração junto com o antigo parâmetro, a pressão sanguinea. Para ser chamado de polígrafo mesmo hoje, o equipamento precisa monitorar pelo menos três sistemas diferentes do corpo. (Polígrafo, entendeu?)
     Infelizmente, mentirosos são sagazes e eles ficaram bons em brincar com o sistema. Um desodorante cuidadosamente aplicado nas palmas ou um sedativo para manter as respostas psicológicas baixas, por exemplo, pode levar a máquina a pensar que se trata de um cidadão exemplar. E também há a situação contrária: quando o sujeito está fazendo tudo certo, mas a máquina não. Acontece.
     A maioria das agências de poligrafia colocam a precisão dos seus detectores de mentiras em 86% ou um pouco acima da média. Vá mais fundo no corpo, porém, e você terá melhores resultados. Desde os anos 1960 sabemos que o corpo humano se acende com atividade 300 milissegundos depois de avistar uma imagem que nos diz algo. Durante uma série de slides — mesa de café, rosa, cadeira, a cinta verde com o desenho de um leopardo usada para estrangular a vítima — o cérebro fará uma singela dança ao visualizar a última imagem que nos é familiar. Basicamente, os cientistas têm desenvolvido uma forma de expô-lo sem que você precise dizer uma palavra sequer. O problema: não é, de fato, um detector de mentiras. Tudo o que ele registra é reconhecimento. E para o processo ter valor, cada caso de polícia precisa ter um item único, singular, conectado ao crime para que ele apareça na tela.

     A busca continua. Melhores scanners cerebrais e formas mais precisas de espreitar por dentro dos processos do nosso corpo nos levará a melhores detectores de mentiras. Até lá, o único detector de mentiras 100% eficaz continuará sendo o Pinóquio.

Rachel Swaby é uma escritora freelancer de San Francisco.

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