Entendendo o caso Julian Assange
A aproximação entre o
ativista Julian Assange, do Wikileaks, com o governo do Equador e seu
presidente Rafael Correa pegou muitas pessoas de surpresa, que não conseguiram
explicar por que o hacktivista foi parar na embaixada justamente do pequeno
país latino-americano. No entanto, alguns fatos dos últimos anos permitem
entender por que Assange escolheu o Equador para protegê-lo e por que seu asilo
político foi aceito, em uma atitude de desafio à nação mais poderosa do mundo.
O australiano está preso dentro do prédio
do corpo diplomático, em Londres, desde o último dia 19 de junho, quando fugiu
da sua prisão domiciliar - na qual era vigiado com a ajuda de um dispositivo
amarrado ao seu tornezelo - para evitar uma ordem de extradição para a Suécia,
onde responderia pelos crimes de agressão e estupro (ou sexo consensual sem
camisinha).
Na última sexta-feira, 17/8, o ministro de
Relações Exteriores, Ricardo Patiño, anunciou que o país sul-americano havia
percebido com grande clareza, avaliando em detalhes os processos contra Assange, de que eles se tratariam de uma
fabricação dos seus poderosos inimigos para calar sua voz.
A relação entre Assange e o governo
equatoriano começou ainda no final de 2010, durante a crise internacional
conhecida como Cablegate, quando o Wikileaks divulgou mais de 250 mil
documentos diplomáticos confidenciais de embaixadas norte-americanas em todo o
mundo, vazados pelo soldado norte-americano Bradley Manning e considerados um
atentado à segurança nacional dos EUA.
Comentaristas políticos da televisão
norte-americana e políticos conservadores sugeriram até que o governo de Barack
Obama deveria usar métodos ilegais para acabar com a vida de Assange. Na mesma
época, Manning foi trancafiado na prisão de segurança máxima da Baía de
Guantánamo, em Cuba, a mesma que serviu de palco para terríveis torturas contra
terroristas da Al Qaeda.
Em novembro de 2010, o ex-vice-ministro
das Relações Exteriores equatoriano Kintto Lucas ofereceu a Assange residência
no país, para que pudesse "divulgar livremente as informações que
possui", mas a oferta foi logo retificada por Correa e atribuída como
iniciativa do próprio Lucas.
Porém, em abril de 2011 o país
sul-americano se tornou o único a efetivamente expulsar o embaixador dos
Estados Unidos depois do escândalo gerado com o vazamento do Wikileaks. A
reação se deu depois que a organização pró-transparência governamental revelou
um relato do então embaixador Heather Hodges comentando o antiamericanismo do
presidente Rafael Correa - que pertence a uma ala de esquerda e apoia líderes
como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia) – e fazia fortes acusações
de corrupção no seu governo.
Correa interpretou nas falas um ranço da
ex-metrópole que não se conforma com a independência da colônia e agiu
energicamente contra o representante do corpo diplomático, tendo sido criticado
por grande parte da imprensa mundial. O político, que considera fazer um
governo progressista e voltado aos pobres, comentou à imprensa na época que
forças conservadoras internacionais buscavam fragilizar o seu grupo político.
Na mesma época, o então presidente
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva fez declarações favoráveis ao ativista.
"O rapaz estava colocando apenas aquilo que ele leu, e se ele leu foi
porque alguém escreveu, e o culpado não foi quem divulgou, o culpado é quem
escreveu. Portanto ao invés de culpar quem divulgou, culpe quem escreveu a
bobagem, porque se não, não teria o escândalo que tem", opinou o petista,
em um discurso público. "Ele foi preso e eu não estou vendo nenhum
protesto contra [o cerceamento à] a liberdade de expressão. É engraçado, não
tem nada".
Por conta disso, Assange tentou se
aproximar do Brasil, deu diversas declarações de que gostaria de morar aqui e
até posou para a capa da Revista Trip com a camisa da seleção canarinho. No
entanto, o apoio brasileiro foi ficando cada vez mais silencioso e menções ao
caso desapareceram no governo de Dilma Rousseff.
Enquanto isso, Correa e Assange se
tornaram mais próximos depois de uma entrevista que o primeiro deu ao segundo
para o programa The World Tomorrow, que passa na televisão russa. Na gravação,
o equatoriano deseja sorte à Julian e mostra simpatizar com o Wikileaks, fato
que começou a gerar os primeiros comentários de um possível apoio ao ativista,
posteriormente confirmados.
Sobre a segurança de Assange
Caso a Grã-Bretanha realmente se negue a garantir a segurança de Julian Assange para que ele deixe o país, o advogado do criador do Wikileaks vai levar o assunto à Corte Internacional de Justiça da Organização das Nações Unidas.
Sobre a segurança de Assange
Caso a Grã-Bretanha realmente se negue a garantir a segurança de Julian Assange para que ele deixe o país, o advogado do criador do Wikileaks vai levar o assunto à Corte Internacional de Justiça da Organização das Nações Unidas.
Mesmo após o Equador ter confirmado que
Assange agora é asilado político em sua Embaixada em Londres, o chanceler
britânico afirmou que seu país não o deixará sair. William Hague disse que o
Reino Unido não reconhece a decisão do governo equatoriano.
Em entrevista ao El País repercutida pelo
The Telegraph, Baltasar Garzon, advogado de Assange, disse que a Grã-Bretanha
está indo muito além da sua autoridade, porque o asilo político tem de ser
respeitado, assim como a soberania do país que o concedeu.
A Convenção Relativa ao Estatuto dos
Refugiados, ocorrida em 1951, definiu que um sujeito na condição de Assange tem
direito, entre outras coisas, a um regime de viagens especiais.
Fonte: olhar digital
Comentários