Cientistas criam câmera que captura 4,4 trilhões de frames por segundo
No século XIX, o fotógrafo
Eadweard Muybridge chocou o mundo com a beleza dos seus estudos sobre o
movimento dos cavalos. Haveria um instante, durante o galope, em que os quatro
cascos do animal deixavam de tocar o chão? Muybridge respondeu essa pergunta
com a famosa sequência de fotos que capturava os vários estágios desse
movimento. Mais de 100 anos mais tarde, cientistas das universidades de Tóquio
e Keio no Japão continuam essa busca pelos instantes fugazes do mundo natural
com uma câmera capaz de registrar fenômenos tão rápidos quanto a condução do
calor por um material.
Batizada de STAMP (Sequentially Timed
All-optical Mapping Photography – algo como “fotografia de mapeamento óptico
sequencialmente cronometrada”), a essa máquina produz uma sequência de imagens
com uma resolução de 450 x 450 pixels. Pode parecer pouco, mas o intervalo de
tempo entre a captura de cada um desses frames é de cerca de 100 femtosegundos,
ou seja, menos do que um trilionésimo de segundo. Em outras palavras, essa
câmera é mais de 36 bilhões de vezes mais rápida que um iPhone 5s, cujos vídeos
em câmera lenta são gravados a 120 FPS.
O método de captura não é nem um pouco
convencional. Em vez de realizar uma sucessão de exposições que ocupam toda a
área do sensor de imagem, o STAMP usa um sistema óptico inovador que conduz os
raios de luz de modo que eles atinjam áreas diferentes do sensor em intervalos
determinados(daí o “mapeamento óptico sequencialmente cronometrado” do nome do
aparelho). Essencialmente, eles estão trocando resolução por frame rate. Como é
a própria propagação da luz que determina o intervalo entre os quadros, essa
câmera não é limitada por nenhum efeito mecânico (como é o caso do obturador
nas DSLR comuns) ou eletrônico.
Como os próprios pesquisadores notam, já
existe um método de geração de imagem que oferece mais resolução e é tão rápido
quanto o STAMP. Essa técnica é chamada de “pump probing”. No entanto, ela
depende da comparação entre uma série de amostragens para formar a imagem.
Simplificando, isso quer dizer que a vantagem do STAMP sobre o “pump probing”
está no fato de que ele pode capturar fenômenos que não são facilmente
reproduzíveis. Além disso, ele o STAMP é tão flexível quanto uma câmera
convencional, o que significa que ele pode ser adaptado para registrar
processos microscópicos e macroscópicos.
Naturalmente, a grande desvantagem do
aparelho é que ele é muito grande. No momento, os cientistas estão trabalhando
com uma unidade de 1m², mas eles planejam encolhê-la em breve.
E as câmeras comuns? Existe alguma possibilidade
de que uma tecnologia parecida seja incorporada às câmeras do mercado
consumidor? Creio que isso é improvável. Mas isso não quer dizer que a modesta
DSLR não tenha se beneficiado de desenvolvimentos na área. Por muito tempo, o
elemento que obstruía a velocidade de captura de imagens era limitação física
do obturador mecânico. Um dos grandes
avanços nesse sentido foi o obturador de cortina dupla, popularizado pela
Leica, cujo conceito básico ainda é utilizado na maioria das câmeras com lentes
intercambiáveis.
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