Seu cérebro faz o celular vibrar
Você sente seu celular
vibrar e imediatamente o retira do bolso, mas fica surpreso ao notar que
ninguém estava te ligando ou enviando mensagens. Acredite, o fenômeno é
bastante comum, tanto que tem até nome: síndrome da vibração fantasma. Mas, ao
contrário do que somos propensos a acreditar, esta sensação pode simplesmente
indicar que o seu cérebro está trabalhando normalmente.
De acordo com uma pesquisa conduzida por
Tom Stafford, professor de psicologia e ciências cognitivas do Departamento de
Psicologia da Universidade de Sheffield (Reino Unido) e autor do best seller
Mind Hacks (sem tradução para o português), os falsos alertas em relação ao
celular nada mais são do que efeito do modo como lidamos com estímulos
sensoriais.
No
que se refere à síndrome da vibração fantasma, sabemos que o aparelho
telefônico só pode estar em um dos seguintes estados: vibrando ou emitindo
alertas sonoros, indicando uma ação a ser feita; ou sem qualquer atividade, não
exigindo ação alguma.
A
sua mente entende isso, mas é capaz de distorcer as regras: interpretar como
vibração do celular qualquer outro estímulo externo (o balançar do seu carro,
por exemplo) para que você realize uma ação (pegue o telefone) ou simplesmente
ignorar uma vibração real, causando uma espécie de “síndrome da vibração
fantasma ao contrário”.
Seu cérebro não está te trollando ao agir
assim. A distorção das regras, se é que podemos chamá-la assim, ocorre porque
seu sistema de percepção se baseia em um equilíbrio entre sensibilidade e
prioridades. Trata-se de um princípio que remete aos nossos primitivos
instintos de sobrevivência, por incrível que pareça.
Basicamente, se você está esperando uma
ligação importante, odeia perder uma chamada ou utiliza o celular como um meio
fundamental de informação, o seu cérebro entende que os sinais do aparelho são
prioritários e, portanto, fará o possível para que você os perceba.
Seu estado de alerta poderá então ficar
tão elevado que qualquer estímulo externo poderá ser atribuído ao seu celular –
é melhor um alarme falso do que ser pego desprevenido. É assim que o balançar
do carro ou um leve esbarrão de alguém no Metrô pode ser interpretado como
vibração do aparelho.
As percepções sonoras também podem ficar
mais apuradas. Você pode ter a impressão de estar ouvindo o seu celular tocar,
especialmente se houver outra fonte de emissão de sons por perto (a música do
carro, por exemplo). Creio eu que a mesma explicação se aplica a quem se sente
impelindo a olhar o celular quando o aparelho de outra pessoa toca, mesmo com o
seu ringtone sendo diferente.
Neste ponto, você certamente já percebeu
que o contrário – a não percepção de uma vibração real – está associada à baixa
prioridade que você dá ao celular: se você não faz questão de receber ligações,
seu cérebro entenderá que deixar suas percepções relacionadas ao aparelho mais
apuradas não é tão importante assim e se focará em outras percepções.
A síndrome da vibração fantasma é tão
comum que dá espaço para outras hipóteses. Para o professor Alex Blaszczynski,
da Escola de Psicologia da Universidade de Sydney, a sensação pode ser causada
pela sensibilidade dos nervos a mínimos sinais elétricos. O seu celular pode
não estar vibrando, mas está a todo instante recebendo e enviando sinais. Se os
nervos “captarem” esta atividade, o cérebro poderá então interpretá-la como
vibração.
Mas a hipótese de percepção apurada parece
ser a mais acertada. Primeiro, porque a teoria do professor Blaszczynski (como
é que se pronuncia este nome, gente?) não explica os falsos alertas sonoros.
Segundo, porque a sensação do celular vibrar no bolso mesmo com o aparelho não
estando lá também acontece bastante. Pelo menos comigo.
Veja, não estamos falando de nenhuma
enfermidade grave ou de uma epidemia moderna. A princípio, a questão é mera
curiosidade. Mas se o fenômeno acontece com muita frequência com você, pode ser
um indício de ansiedade. Aí, meu amigo, keep calm and relax.
Fonte: BBC.
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