O fascismo cresceu, insuflado pela imprensa
Vale a pena ler a reflexão
de Paulo Moreira Leite, sobre a agressividade crescente de alguns grupos contra
outros cidadãos brasileiros, por preconceito contra quem pensa (e vota)
diferente de você.
Agressividade e fascismo
insuflados pela mídia.
O discurso do ódio da mídia
já criou até mesmo um terrorista.
Até onde isso vai?
Pouco se fala disso na mídia
brasileira, porque ela sempre tentou vender a imagem de que a imprensa é apenas
irmã da democracia.
Sim, é irmã, mas é também a
traidora e a carrasca.
A imprensa vive traindo a
democracia e apoiando a ditadura e o fascismo.
Todos os movimentos
fascistas tiveram início na imprensa, inclusive o brasileiro, que culminou no
golpe de 64.
O FASCISMO À ESPREITA NA
RETA FINAL
18 de outubro de 2014 - por Paulo Moreira Leite, em
seu blog.
Atos de violência e
intimidação são resultado previsível de uma política de criminalização da
política e dos políticos
Na quinta-feira, quando
Dilma teve uma queda de pressão no SBT, um médico gaúcho usou o twitter para
mandar essa “#%&!##”chamar um “médico cubano.”
(Dois dias antes, ao sair do
carro no estacionamento da TV Band, para o debate anterior, a presidente foi recebida
pelos gritos de um assessor parlamentar adversário. Ouviram-se coisas como
“vaca”, “vai para casa…”)
No Rio, o cronista Gregório
Duvivier passou a receber diversos tipos de ameaça depois que publicou um texto
onde deixou clara sua preferência por Dilma.
Agressores avançaram sobre o
escritor Enio Gonçalves Filho, blogueiro com momentos de boa inspiração — e que
é cadeirante — quando ele se dirigia ao Churrasco dos Desinformados, na Praça
Roosevelt. Enio se dirigia a um protesto para responder ao comentário de
Fernando Henrique Cardoso sobre a vantagem de Dilma nos estados do Nordeste (“O
PT está fincado nos menos informados, que coincidem de ser os mais pobres. Não
é porque são pobres que apoiam o PT. É porque são menos informados,” disse
FHC).
No meio do caminho, três
sujeitos avantajados tentaram obrigar Enio a tirar sua camisa vermelha — ele é
petista — e chacoalhavam sua cadeira de rodas.
Uma comunidade de quase 100
mil usuários numa rede social, que se declaram profissionais da classe médica
brasileira, se tornou palco de uma guerra dentro da corrida presidencial. Com o
título de “Dignidade Médica”, as postagens do grupo pregam “castrações
químicas” contra nordestinos, profissionais com menor nível hierárquico, como
recepcionistas de consultório e enfermeiras, e propõe um “holocausto” contra os
eleitores de Dilma.
Eleições apertadas, que
envolvem projetos políticos distintos, podem gerar conflitos entre eleitores
que chegam a lembrar torcidas de futebol. Mas estamos assistindo a uma situação
diferente: ações agressivas destinadas a dar suporte a uma ideologia política
de exclusão e negação de direitos elementares.
A maioria dos estudiosos
costuma ligar a emergência do ódio político, sentimento que está na base dos
movimentos fascistas, a situações de crise econômica, quando a maioria das
pessoas não enxerga uma saída para suas vidas nem para suas famílias. Embora a
economia brasileira tenha crescido pouco em 2014, ninguém definiria a situação
do Brasil como catastrófica.
Ao contrário do que ocorria
na Europa dos anos 20 e 30, que viu nascer os regimes de Benito Mussolini e
Adolf Hitler, o Brasil não se encontra numa situação de superinflação nem de
desemprego selvagem. A média dos últimos quatro anos de inflação é a segunda
mais baixa da história do IBGE — numa linha que vai até 1940.
O desemprego é o menor da
história e continua caindo. Nada menos que 123 000 novos postos de trabalho
foram criados em setembro 2014. É inegável que ao longo dos anos ocorreram
avanços na distribuição de renda, no combate a desigualdade, na ampliação dos
direitos das maiores que passavam excluídas pela historia.
A intolerância de 2014 tem
origem política e tem sido estimulada pelos adversários do PT e Dilma.
Procura-se questionar a legitimidade de suas decisões e rebaixar moralmente os
eleitores os apóiam.
Em 2006, quando Lula foi
reeleito, um ano e meio depois das denúncias de Roberto Jefferson, o Estado de
S. Paulo publicou uma reportagem tentando sustentar que “a aceitação da
corrupção na política está mais presente entre os eleitores de baixa renda.”
Ao fazer pesquisas que
associavam valores morais aos anos de educação formal de um cidadão, o estudo A
Cabeça do Brasileiro sugeria que a baixa escolaridade — condição da maioria da
população — tornava a parcela menos educada da população mais vulnerável ao
“jeitinho” e outras práticas condenáveis.
Procurando entender a origem
do fascismo nas primeiras décadas do século passado, Hanna Arendt deixou lições
que podem ser úteis para o Brasil de 2014.
Hanna Arendt usava uma
expressão interessantíssima — “amargura egocêntrica” — para definir a
psicologia social dessas pessoas que integravam movimentos de vocação fascista.
Ela escreveu: “a consciência da desimportância e da dispensabilidade deixava de
ser a expressão da frustração individual e se tornava um fenômeno de massa.”
É sempre interessante
recordar um levantamento feito em 2011 pelo instituto Data Popular.
Entrevistando 18 000 cidadãos na parte superior da pirâmide de renda, o
DataPopular descobriu que:
55,3% concordam que deveria
haver produtos para ricos e pobres
48,4% concordam que a
qualidade dos serviços piorou com o maior acesso da população
62,8% concordam que estão
incomodados com o aumento das filas
49,7% concordam que preferem
frequentar ambientes com pessoas do seu nível social
16,5% concordam que pessoas
mal vestidas deveriam ser barradas em alguns lugares
26,4 % concordam que o metrô
aumenta a circulação de pessoas indesejáveis na região em que moram
17,1% concordam que todos os
estabelecimentos deveriam ter elevadores separados.
A intolerância e o ódio
cresceram no Brasil com uma consequência inevitável de um movimento destinado à
criminalização da política e dos políticos — em particular do Partido dos
Trabalhadores, nascido para ser “aquela parede protetora” das classes
assalariados e dos mais pobres, para usar uma expressão de Hanna Arendt. Pela
destruição das barreiras de classe, que permitem distinguir um partido de
outro, os interesses de uns e de outros, firmou-se o conceito de que nossos
homens públicos são autoridades sem escrúpulo e bandidos de alta
periculosidade, sem distinção, descartáveis e equivalentes, “não apenas
perniciosas, mas também obtusas e desonestas, ” como escreveu a mestra.
As atitudes agressivas e
tentativas de humilhação nasceram durante o julgamento da AP 470, no qual se
assistiu a um espetáculo seletivo de longa duração. Enquanto os acusados
ligados ao PT e ao governo Lula eram julgados em ambiente de carnaval
cívico-televisivo, num espetáculo transmitido e estimulado por programas de TV,
os acusados do PSDB, envolvidos nos mesmos esquemas, dirigidos pelas mesmas
pessoas — e até com mais tempo de atividade — foram despachados para tribunais
longe da TV, a uma distancia de qualquer pressão por celeridade. Sequer foram
julgados — embora a denúncia seja anterior.
Há outros componentes no
Brasil de 2014. A referencia sempre odiosa aos médicos cubanos que respondem
pelo atendimento de brasileiros que nossos doutores verde-amarelos não têm a
menor disposição de atender, revela o casamento do preconceito com um
anticomunismo primitivo, herança viva da ditadura de 1964. Permite ao fascismo
recuperar o universo Ame-o ou Deixe-o, assumir-se como aliado da ditadura sem
dizer isso de forma explícita.
O progresso social dos
últimos anos ajudou a criar ressentimento de camadas de cima que se veem
ameaçadas — — em seu prestígio, mais do que por outra coisa – em função do
progresso dos mais pobres, essa multidão despossuída que na última década
conseguiu retirar uma fatia um pouco mais larga do bolo da riqueza do país.
Em 2010, a vitória de Dilma
Rousseff foi saudada em São Paulo por um grito no twitter: “Faça um favor a SP:
mate um nordestino afogado!”, escreveu uma estudante de Direito. Três anos mais
tarde, ela foi condenada um ano e cinco meses de prisão, mas teve a pena
transformada em prestação de serviços comunitários.
“O que perturba os espíritos
lógicos é a indiscutível atração que esses movimentos exercem sobre a elite “,
escreveu Hanna Arendt.
Richard Sennet, um dos
principais estudiosos das sociedades contemporâneas, definiu o ressentimento
como a convicção de que determinadas reformas em nome do povo “traduzem-se em
conspirações que privam as pessoas comuns de seu direito e seu respeito.” Os
benefícios oferecidos aos mais pobres resultam em insegurança e insatisfação
por parte dos cidadãos que estão acima das políticas sociais dirigidas às
camadas inferiores, explica Sennet, para quem essas pessoas tem o sentimento de
que o governo “não conhece grande coisa de seus problemas, apesar de falar em
seu nome.”
Mas quais seriam estes
problemas? Hanna Arendt falou em “amargura egocêntrica.”
Na década de 1950, poucas
medidas de Getúlio Vargas despertaram o ódio de seus adversários como a decisão
de aumentar o salário mínimo em 100%. Pouco importava que esse número se baseasse
na inflação do período anterior, de inflação altíssima. A questão é que, com um
salário desses, um operário da construção civil poderia ganhar o mesmo que um
militar de baixa patente e outros funcionários públicos — e isso era
inaceitável num país onde o trabalho de um pedreiro era visto como a herança da
escravidão.
O fim da história nós
sabemos.
(Texto e foto extraídos do blog Tijolaço)
(Texto e foto extraídos do blog Tijolaço)
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