Só doença mental não explica comportamento do co-piloto da Germanwings


      As últimas notícias indicam que Andreas Lubitz, o co-piloto da Germanwings que jogou o avião deliberadamente nos Alpes, sofria de doença mental. Mas poderá isso explicar o comportamento?
     Os investigadores podem nunca saberão ao certo por que Andreas Lubitz, o co-piloto da Germanwings, jogou o avião deliberadamente nos Alpes franceses, mas os especialistas em saúde mental dizem que qualquer doença mental que Lubitz possa ter tido não explica por si só a tragédia.
     A maioria das pessoas com transtornos mentais não magoam outras pessoas, mostram os estudos. Outros fatores tais como sentimentos de isolamento ou raiva, ou o abuso de drogas e álcool, estão muitas vezes envolvidos quando as pessoas cometem atos inimagináveis, como deliberadamente atirar um avião no solo, afirma Seena Fazel, professora de psiquiatria da Universidade de Oxford.
     Na casa de Lubitz, os investigadores encontraram um atestado médico que o dispensava do trabalho no dia do acidente, e uma outra nota que tinha sido rasgada, afirma o The New York Times. A revista alemã Spiegel informou que a polícia encontrou informações que sugerem que Lubitz teve um problema de saúde mental, tendo passado por psicoterapia.
     As doenças mentais, incluindo depressão e esquizofrenia, têm sido associadas a um risco ligeiramente aumentado de ser condenado por crime violento, sugerem os estudos. Mas mesmo que Lubitz tenha realmente tido um problema de saúde mental, isso não explica necessariamente por que ele jogou um avião cheio de pessoas para a morte, disse Fazel.

A doença mental e o crime violento

     Um estudo que Fazel fez com mais de 47.000 pessoas na Suécia, descobriu que as pessoas com depressão são cerca de três vezes mais propensas a cometer um crime violento do que pessoas que não estão deprimidas.
     No entanto, a percentagem de pessoas com depressão que cometem crimes violentos ainda é extremamente baixa - apenas 3,7% dos homens e 0,5% das mulheres com depressão cometem tais crimes, em comparação com 1,2% dos homens e 0,2% das mulheres na população em geral. O estudo foi publicado na revista científica The Lancet Psychiatry.
     Nestes tipos de estudos, também é difícil para os investigadores separarem a contribuição que uma condição de saúde mental pode levar a um ato violento, da contribuição de outros fatores de risco para a violência, afirma Fazel. Por exemplo, as pessoas com doenças mentais podem abusar de drogas ou álcool.
     De fato, um estudo de revisão em 2009, publicado na revista PLoS Medicine descobriu uma associação entre esquizofrenia e um risco de violência mais elevado, especialmente homicídio. Mas a maioria das pessoas que cometeram atos violentos também sofreu com o abuso de substâncias, descobriram os pesquisadores.
Perfil de um assassino em massa
     Estudos mostram que os assassinatos em massa, como o do tiroteio na Columbine High School ou na Virginia Tech, são mais frequentemente cometidos por pessoas do gênero masculino, com menos de 40 anos de idade, socialmente isolados, desempregados, tiranizados como uma criança e fascinados por armas, afirma Fazel.
     Mas essa lista de características é "tão inespecífica", que as autoridades não podem usá-la para rastrear criminosos em potencial, acrescenta Fazel. E apesar de alguns assassinos em massa terem histórias de problemas de saúde mental, os relatórios também sugerem que muitos deles não têm uma doença mental ativa no momento que cometem os crimes.
     Os investigadores ainda estão determinando se o acidente da Germanwings foi um homicídio-suicídio. Tais crimes são raros - um estudo de revisão de junho 2009 publicado na revista científica “Suicide and Life-Threatening Behavior” descobriu que dos mais de 110.000 homicídios, apenas 8 por cento eram homicídios-suicídios.

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