Cientistas modificam embrião humano e causam polêmica no mundo todo


   Pesquisadores chineses realizaram um feito inédito: eles conseguiram manipular os genomas de embriões humanos. É algo revolucionário, mas ainda bastante impreciso – e potencialmente perigoso.
     Em um estudo publicado na revista Protein & Cell, cientistas da Universidade Sun Yat-sen (China) testaram uma técnica em embriões humanos para modificar o gene que causa uma doença fatal no sangue.
Técnica
     A técnica, chamada CRISPR, procura genes que podem causar problemas como doenças hereditárias. Ela substitui o gene problemático no DNA por moléculas diferentes, para neutralizar a ameaça antes do nascimento.
     A CRISPR foi desenvolvida em 2005, quando pesquisadores descobriram que bactérias usam isso para combater vírus: elas detectam certas partes do DNA viral e conseguem quebrá-lo, evitando infecções.
     De acordo com a Nature, essa técnica vem sendo usada em embriões de animais e em células humanas adultas. No entanto, este é o primeiro estudo publicado que lida com embriões humanos.
Embriões que não viram humanos
     Os pesquisadores começaram com embriões humanos “não-viáveis”, coletados de clínicas de fertilização. Esses embriões não têm como virar pessoas: são óvulos fecundados in-vitro com o DNA de dois espermatozoides.
     Esse conjunto anormal de genes permite formar apenas pequenos aglomerados de células, que não conseguem se dividir para virarem um ser humano. Os pesquisadores dizem que esse tipo de embrião é “um sistema modelo ideal” para realizar testes genéticos. (Se isso é ético, aí é outra coisa.)
Resultados
     Os cientistas tentaram usar a CRISPR para editar um gene chamado HBB. Ele codifica uma proteína cujas mutações podem desencadear a talassemia beta, uma doença no sangue potencialmente fatal.
     Só que, dos 86 embriões usados ​​no experimento, apenas 28 tiveram seu DNA editado com sucesso, e só 7 deles perderam o gene nocivo. E os embriões modificados corretamente eram, na verdade, uma mistura de células editadas e células não editadas – ou seja, algumas ainda mantinham o gene que deveria ser removido.
     Pior: em alguns casos, a técnica errava o alvo e atingia o DNA em outras partes – o que poderia causar novas doenças, em vez de evitá-las. A equipe encontrou um número surpreendente de mutações “fora do alvo” em outras partes do genoma, que podem ter sido causadas pela CRISPR.
Polêmica
     Na melhor das hipóteses, a prática não está pronta; e na pior das hipóteses, ela é absolutamente controversa. O estudo foi rejeitado pelas conhecidas revistas Nature e Science por “objeções de natureza ética”.
     “Se você quiser fazer isso em embriões normais, você precisa de uma técnica próxima a 100% de acerto”, disse à Nature News o pesquisador-chefe Junjiu Huang. “É por isso que nós paramos. Nós ainda achamos que a técnica está muito imatura.”
     Ele não está sozinho. No mês passado, um grupo de grandes geneticistas – incluindo Jennifer Doudna, que liderou os primeiros estudos sobre a CRISPR – pediram na revista Science que a técnica não fosse testada em embriões humanos. Eles dizem:
     No momento, os potenciais problemas de segurança e eficácia decorrentes da utilização dessa tecnologia devem ser cuidadosamente estudados e compreendidos antes de sancionar qualquer tentativa de engenharia humana, se isso ocorrer, para testes clínicos.
     Opositores dizem que editar um embrião é perigoso: essas mudanças genéticas são hereditárias, ou seja, elas poderiam ter um efeito imprevisível nas gerações futuras. Além disso, genes saudáveis ​​podem inadvertidamente ser mudados.
E agora?
     Junjiu Huang, do estudo polêmico, agora planeja descobrir como a CRISPR pode ser usada sem gerar tantas mutações indesejadas – desta vez, usando células adultas de humanos ou de animais, não embriões humanos.
     Mas este não é o fim da engenharia humana em embriões. Como lembra a National Geographic, é o que aconteceu com a clonagem: no início, os embriões clonados muitas vezes não conseguiam se desenvolver, e os animais que nasciam muitas vezes acabaram com sérios problemas de saúde. Desde então, as técnicas foram refinadas e funcionam bem melhor no mundo da pecuária e de animais de estimação.
     Cientistas também podem clonar pessoas, mas não fazem isso porque não é ético. E quanto a criar humanos geneticamente modificados? Teremos que tomar uma decisão: segundo a Nature, pelo menos quatro grupos na China já estão editando o DNA de embriões humanos para publicarem estudos no futuro.

Fonte:Nature - National Geographic e Quartz

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