Parece coisa de empresário brasileiro. Mas não é.



     Nos primórdios da internet era raro ir a eventos onde houvesse infraestrutura com Wi-Fi. Quando havia, em geral, não funcionava. Nem sempre era culpa do organizador, mas do espaço, que, igual igreja com casamentos, agem com a mais profunda e total mesquinharia, cobrando até por tomadas.
     Uma vez fui a um evento de uma grande empresa de software feito em um espaço futurista de uma grande empresa de telecomunicações. Havia alguns PCs para os visitantes, mas o Wi-Fi foi cortado após alguns minutos. Usando meus poderes de investigação dignos de Sherlock Holmes, descobri o motivo: cada ponto de rede custava R$ 250,00. A tal empresa dona do espaço queria cobrar o mesmo valor por CADA CONEXÃO À REDE WI-FI.
     D’outra vez um dos ex-sócios do MeioBit foi a um evento num Hilton. Wi-Fi? Como ele não era hóspede, pediram R$ 200,00.
     Felizmente isso mudou, mesmo nos hotéis, hoje é raro o que cobre caro por internet, e há até os que disponibilizam gratuitamente, mas nos EUA o perfil é diferente. Hotéis metem a faca e torcem. Pior: se você acha que com o 3G estaria livre, esqueça.
     Redes como a Marriott e a Hilton instalam bloqueadores de Wi-Fi em seus hotéis, impedindo que o sujeito use o 3G do celular para compartilhar internet via access point privado com o notebook, tablet, etc. É tipo o cinema que impede que você entre com comida, mas com o agravante de revistarem sua mochila e drenarem seu estômago da última refeição.
     O bicho pegou, o FCC — Federal Communications Commission entrou com uma ação e no final chegaram a um acordo onde a Marriott pagou US$ 600 mil.
     A justificativa é absolutamente hilária. Dizem eles que instalam bloqueadores de Wi-Fi para proteger os hóspedes, impedindo que acessem hotspots desconhecidos. O Hilton diz que não pode atender às expectativas dos hóspedes se não puder gerenciar a rede Wi-Fi, então bloqueiam as externas.
     Por isso o Marriott enfia bloqueador de Wi-Fi, para garantir que o sujeito que se virou pra alugar uma mesa em uma convenção pague mais US$ 1.000,00 por um ponto de rede. Eu tenho certeza que esse pessoal é o mesmo que gerencia sites de ingresso online e a famigerada “taxa de conveniência”.
     Pior: depois da cartada do FCC a Indústria Hoteleira montou um lobby para conseguir uma portaria permitindo a prática de bloqueio de Wi-Fi. Do outro lado um monte de gente, incluindo pesos-pesados como Cisco, Microsoft e Google. A solicitação dos hotéis é tão canalha que sequer assume seu real propósito. Eles pedem apenas que:
     “Os hotéis possam usar equipamentos para gerenciar suas redes mesmo que isso resulte ou cause interferência em dispositivos sem fios, usados pelos hóspedes.”
     Manja? Não pedem para bloquear acesso Wi-Fi, só para gerenciar a própria rede, e se sem querer, inocentemente e por acaso isso interfira com o Wi-Fi do Access Point pessoal do hóspede, azar.

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