Tip do Dia - BBB por Luis Fernando Veríssimo
"BBB 13 (por Luis Fernando
Veríssimo) Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil
(BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos
chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na
TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para
qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. Dizem que Roma, um
dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação
dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB
é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir ver este programa
ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros… todos na mesma casa, a casa dos
“heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho
que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja
entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico
humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua
mistura de clichês e figuras típicas. Pergunto-me, por exemplo, como um
jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça,
cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa
desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve
maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de
se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa
é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da
dignidade. Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro
repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de
reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis.
Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para
mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde,
professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros
e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas
exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal
remunerados. Heróis são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de
comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso
todo dia. Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças
complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs,
voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes
e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns). Heróis são
aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando
apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem
apresentada meses atrás pela própria Rede Globo. O Big Brother Brasil não é um
programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos
intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer
outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à
criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São
apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir
estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e
meio de reais. E aí vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a
“entender o comportamento humano”. Ah, tenha dó!!! Veja o que está por de
trá$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de
que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da
ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e
setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a
cada paredão. Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse
dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde
de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou
comprar mais de 5.000 computadores). Essas palavras não são de revolta ou
protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões
de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema
de Mário Quintana, Gonçalves Dias ou de Neruda ou qualquer outra coisa…, ir ao
cinema…., estudar…, ouvir boa música…, cuidar das flores e jardins… , telefonar
para um amigo… , visitar os avós… , pescar…, brincar com as crianças…, namorar…
ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de
dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída
nossa sociedade!"
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